O Verão em que o Proibido Virou Desejo

 
No outono em que o vento trouxe cheiro de terra molhada e eucalipto, Lívia chegou a Água Preta para cuidar da casa da avó, fechada há anos entre laranjeiras e mato baixo. Ela precisava de silêncio. De ar puro. De um tempo longe da cidade, dos olhares que a devoravam sem perguntar, dos homens que a desejavam como se ela fosse um objeto de disputa, não uma mulher com alma.
 
Tinha 29 anos, corpo de dançarina, olhos escuros que pareciam guardar segredos de quem já amou demais e se decepcionou mais ainda. Cabelos negros até os ombros, pele dourada pelo sol de infância no interior. Movia-se com calma, como se cada gesto tivesse sido ensaiado pelo tempo.
 
O caseiro da propriedade chamava-se Thiago. Ninguém sabia ao certo sua idade — entre trinta e cinco e quarenta, talvez. Alto, corpo esculpido a fogo e suor, pele cor de café com leite, voz grave como o som do rio à noite. Usava camisetas simples, calça de brim, botas gastas. Quando sorria, mostrava dentes brancos e um brilho nos olhos que parecia desafiar o mundo.
 
Lívia o viu pela primeira vez no alpendre, limpando ferramentas ao entardecer. O sol batia em suas costas largas, destacando os músculos que se moviam sob a camisa úmida. Ele ergueu o rosto, e por um instante, o tempo parou. Não houve sorriso, nem palavra. Apenas um olhar. Longo. Profundo. Como se já se conhecessem de outra vida.
 
— Boa tarde — disse ele, por fim, com voz baixa, quase um murmúrio.
 
— Boa tarde — respondeu ela, sentindo o coração bater mais forte, sem saber por quê.
 
Nos dias seguintes, cruzavam-se em silêncio: ele regando as plantas, ela escrevendo no caderno sob a figueira. Um café deixado na mesa da cozinha. Uma roseira podada ao lado da porta. Pequenos gestos, quase imperceptíveis, mas carregados de intenção.
 
Ela notava como ele nunca a encarava com vulgaridade. Nem mesmo quando ela passava de vestido leve, o tecido dançando com o vento. Ele olhava, sim — mas como quem vê uma obra de arte, não como quem quer possuir.
 
Até que, numa tarde quente, o gerador falhou. A casa ficou no escuro. Lívia acendeu velas. O ar estava denso, úmido, como se a própria natureza prendesse a respiração.
 
Ele bateu à porta com uma lanterna.
 
— Vim ver se estava tudo bem.
 
Ela abriu. Estava descalça, com um vestido de linho branco, os cabelos soltos. Ele entrou. Não falou nada. Apenas olhou para as velas, para o reflexo da chama em seus olhos.
 
— O gerador vai demorar — disse. — Posso checar amanhã.
 
Ela acenou com a cabeça. O silêncio cresceu. Mas não era vazio. Era cheio. De algo que não tinha nome ainda.
 
— Você tem medo de escuro? — perguntou ele, devagar.
 
— Não — respondeu. — Só de coisas que não entendo.
 
Ele sorriu. Um sorriso lento, quente.
 
— Às vezes, o que não entendemos é o que mais nos pertence.
 
Ela sentiu um arrepio. Não de medo. De reconhecimento.
 
Ele se aproximou. Não com pressa. Com certeza. Parou a um palmo dela. Cheirava a terra, a sabonete de alecrim, a homem verdadeiro.
 
— Posso tocar seu rosto? — perguntou.
 
Ela não respondeu com palavras. Apenas fechou os olhos.
 
A mão dele subiu devagar — quente, calejada, firme. Os dedos roçaram sua têmpora, desceram pela bochecha, pararam no queixo. Um toque que não era posse, mas pergunta.
 
Ela abriu os olhos.
 
— Sim — sussurrou.
 
Ele a beijou como se estivesse esperando por aquele momento a vida inteira. Devagar. Profundo. A língua encontrando a dela como se já soubesse o caminho. As mãos deslizaram pelas costas, puxando-a para perto, colando o corpo ao dela — forte, quente, vivo.
 
Ela sentiu o desejo subir pelas pernas, como um rio que rompe a barragem. As mãos foram para o peito dele, sentindo o coração bater forte sob a camisa. Quando ele a levantou, ela envolveu a cintura com as pernas, como se aquele fosse o lugar onde sempre deveria estar.
 
No quarto, ele acendeu mais velas. A luz dançava nas paredes, projetando sombras longas, como se a casa inteira estivesse assistindo.
 
Ele despiu-a com ritmo de quem sabe o valor do tempo. O vestido escorregou. O sutiã, delicado, foi desabotoado com os dentes. Os seios dela, firmes, murchos de antecipação. Ele os beijou com devoção — primeiro um, depois o outro — com língua, com lábios, com reverência.
 
Ela gemeu. Um som baixo, rouco, que veio do fundo da garganta.
 
— Thiago… — chamou, como se precisasse ter certeza de que era real.
 
Ele desceu. Beijou a barriga, o umbigo, a curva dos quadris. As mãos abriram suas pernas com cuidado, como se estivesse desembrulhando um presente sagrado.
 
E então, quando sua boca tocou o centro dela, Lívia arqueou as costas como se fosse possuída. Ele a lambeu com lentidão, com precisão, como quem conhece cada caminho do corpo feminino. O clitóris, inchado, pulsava sob sua língua. Os lábios, úmidos, abertos, entregues.
 
Ela segurou os lençóis. Depois, os cabelos dele. Depois, gritou — um grito abafado, rouco, de prazer puro.
 
Quando o orgasmo chegou, foi como uma onda que a levou para longe. Tremeu inteira. Chorou. E ele apenas a segurou, beijando sua barriga, sua coxa, seu joelho, como quem diz: eu estou aqui.
 
Mais tarde, foi ela quem tirou a camisa dele. Quem desceu o zíper da calça. Quem viu, pela primeira vez, o corpo inteiro — largo, forte, marcado pelo sol e pelo trabalho. E o membro, ereto, grosso, pulsante — não como um símbolo de poder, mas como uma extensão daquele homem inteiro.
 
Ela o tocou com as duas mãos. Ele fechou os olhos, como se não suportasse tanta beleza.
 
— Deixe-me sentir você — pediu.
 
Ela o guiou para dentro. Devagar. Profundo. Como se estivesse se lembrando de algo esquecido.
 
Ele entrou nela como quem volta para casa. Com força, mas com cuidado. Com paixão, mas com respeito. O ritmo cresceu, mas nunca perdeu o controle. Os quadris se encontravam, os corpos suavam, os gemidos se misturavam ao som do vento lá fora.
 
Quando o clímax veio, foi junto. Ela gritou seu nome. Ele enterrou o rosto em seu pescoço, sussurrando palavras que ela não entendeu, mas que sentiu como verdade.
 
Depois, ficaram deitados, abraçados, ouvindo a chuva começar do lado de fora.
 
— Isso não foi só sexo — disse ela, com os olhos fechados.
 
— Nunca foi — respondeu ele. — Foi encontro.
 
Ela sorriu. Sabia que voltaria. Sabia que, mesmo que partisse, algo dela ficaria ali — entre as laranjeiras, as velas, o cheiro de terra molhada.
 
E que ele, talvez, estaria esperando. Não como dono. Mas como guardião.
 
Do que é verdadeiro. Do que é raro.
Do que é, afinal, prazer.

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