O Segredo do Quarto de Visitas
Há momentos em nossas vidas que se escondem entre as linhas do cotidiano, disfarçados de casualidade, até que um gesto, uma palavra ou um olhar os acende como uma chama na penumbra. Foi assim comigo — silencioso, inesperado e profundamente transformador. A história não começou com paixão ou promessa, mas com conversas triviais, risos familiares e a insinuação de um desejo mal contido. E, como acontece muitas vezes, foi no calor de um verão e na sombra de uma cama hospitalar que tudo mudou.
A tarde era abafada, o tipo de calor que cola a pele ao tecido e faz o ar pesar sobre o corpo como uma carícia constante. Estávamos todos reunidos na chácara, celebrando o aniversário do tio, cercados por risos, lembranças e aquela sensação familiar de pertencimento. Mas entre os pratos de carne grelhada e o tilintar dos copos de cerveja, uma conversa íntima surgiu, quase sem querer. Marta, esposa de Rafael — meu primo — reclamava do marido com um misto de orgulho e cansaço. "Ele é... exigente", disse, baixo, como quem conta um segredo que também é uma advertência. Naquele momento, eu ri, fingi indiferença, mas algo em suas palavras ficou ecoando dentro de mim. Um desejo antigo, adormecido, começava a despertar.
Nossas conversas no Facebook foram se alongando, primeiro sobre família, depois sobre assuntos mais tênues, até que, numa noite qualquer, Rafa me surpreendeu com uma provocação envolta em ironia. Falávamos de notícias, de poder, de desejo, e ele, com uma naturalidade que me desarmou, perguntou:
— Se fosse você, o que faria se alguém te assediasse?
Respondi com leveza, mas por trás das minhas palavras havia uma intenção. Uma porta entreaberta. Ele entendeu.
— Se fosse você, o que faria se alguém te assediasse?
Respondi com leveza, mas por trás das minhas palavras havia uma intenção. Uma porta entreaberta. Ele entendeu.
E então veio a brincadeira, a provocação, a foto. Tudo parecia absurdo, irreal, mas era exatamente real o suficiente para mexer comigo. Havia ali uma curiosidade que eu não sabia que carregava — ou talvez negava ter. Meu corpo, porém, já sabia. Sentia uma agitação estranha, quase infantil, como se estivesse prestes a pular de um trampolim alto, sem saber se haveria água embaixo.
O destino, ou talvez a própria vida, nos colocou juntos novamente. Desta vez, longe da festa e da alegria ruidosa, num ambiente frio e silencioso: o hospital. Minha tia estava doente, e nossa rotina passou a girar em torno de remédios, consultas e esperança. Nas idas e vindas, Rafa e eu compartilhávamos longos trajetos. Conversas que antes eram virtuais ganharam toques físicos sutis — mãos que se roçavam ao pegar o mesmo objeto, olhares que se prolongavam além do necessário. Eu resistia, claro. Era casada, ele também. Éramos primos. Mas o desejo tem leis próprias, e elas não respeitam convenções.
Naquela tarde em que minha tia dormia sob os efeitos da quimioterapia, estávamos sozinhos. Rafa fez o primeiro movimento, e eu, surpreendendo a mim mesma, não o rejeitei. Quando seus lábios encontraram os meus, foi como se todo o tempo parasse. Sua boca era quente, insistente, e seu cheiro me envolveu como uma memória que eu nunca havia vivido. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas, subiram até meu pescoço, e então senti sua respiração se fundir à minha. Não havia mais volta.
No quarto seguinte, em outra visita, ele me levou. Longe do mundo, longe da culpa. Lá, onde ninguém podia nos ouvir, deixei que me despi. Cada peça tirada era um véu a menos entre mim e o proibido. Quando vi seu corpo nu, não pude evitar o espanto. Era tudo o que Marta havia dito, e mais. Grande, grosso, pulsante. Um monumento de desejo. E quando ele me tocou, não foi apenas a pele que respondeu — foi toda eu, inteira, como se meu corpo estivesse há anos esperando por aquele instante.
Seu beijo molhou meus lábios internos, sua língua desenhou caminhos que nenhum homem jamais havia traçado. Eu me arqueei, gemi, implorei por mais, por tudo. E ele veio, lento, cuidadoso, preenchendo-me de forma tão completa que doeu. Mas essa dor era parte do prazer, como o rasgar de uma barreira que separava o que eu era do que eu podia ser. Cada movimento dele era uma descoberta, cada embate de corpos, uma explosão de sensações que eu nem sabia que existiam. Eu nunca havia gozado assim. Nem sequer imaginava que pudesse sentir tanto.
Quando terminamos, fiquei ofegante, molhada, suada e assustada. Corri para o banheiro, lavando-me como se tentasse apagar evidências de um crime. Mas não havia crime, só desejo. Um desejo que não me largou mais. Daquela vez, e nas outras que vieram, Rafa me tomava com urgência, como quem precisa matar uma sede antiga. E eu, por mais que soubesse que deveria me afastar, voltava sempre. Porque com ele eu me sentia viva, plena, feminina. E isso, por mais errado que parecesse, era verdadeiro.
Hoje, mantenho esses encontros como um segredo guardado sob pele e suspiro. Não há justificativa moral, nem perdão fácil. Há apenas o reconhecimento de que o desejo, quando verdadeiro, não pede licença. Ele surge, às vezes em meio ao caos, e nos transforma. E eu, que antes invejava a intensidade da vida sexual de Marta, agora sei que o prazer mais profundo não está no tamanho de um corpo, mas na entrega total de si mesma.
Pode-se dizer que traí confianças. Pode-se julgar. Mas quem nunca sentiu o peso do vazio entre quatro paredes? Quem nunca desejou, mesmo por um instante, ser completamente desejada?
Rafa me mostrou que ainda sou capaz de sentir. De querer. De viver. E por isso, mesmo com toda a culpa, não consigo me arrepender.




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