Um Jogo de Exposição
Há momentos na vida em que o desejo nos surpreende com sua força inesperada, desafiando os limites que até então pareciam inabaláveis. Foi exatamente assim que tudo começou — com uma mudança quase imperceptível no olhar do meu marido, como se ele tivesse descoberto um novo prazer escondido nas sombras da minha própria pele. O ciúme que antes era sufocante foi substituído por algo mais complexo, mais ousado. Ele não apenas tolerava os olhares alheios — passou a incentivá-los. E, sem que eu percebesse, entre brincadeiras provocativas e desafios íntimos, fui me tornando parte de um jogo cujas regras ainda desconhecia.
A primeira vez que me senti realmente observada foi numa tarde de verão, na areia quente da praia. Meu marido, Vitor, lançou-me um olhar desafiador e perguntou, quase em tom de brincadeira, se eu teria coragem de ficar sem a parte de cima do biquíni. Sua voz era leve, mas seus olhos ardiam com uma intenção que me fez estremecer por dentro. Eu hesitei, o coração acelerado, mas algo dentro de mim pulsava com a ideia de ser vista — de ser desejada, mesmo à distância.
Aceitei o desafio. Ao remover a peça, senti o sol tocar minha pele nua e percebi os olhares furtivos ao redor. Não eram apenas os raios luminosos que me aqueciam — era a consciência de estar exposta, vulnerável e poderosa ao mesmo tempo. Meu corpo respondeu de forma involuntária: os mamilos endureceram e um calor úmido despertou entre minhas coxas. Era estranho sentir excitação diante de tantos olhos, mas ao mesmo tempo... tão natural.
Naquela noite, Vitor estava diferente. Mais presente, mais urgente. Suas mãos percorriam minha pele como se quisesse relembrar cada centímetro do meu corpo, como se precisasse confirmar que eu ainda era dele, mesmo depois de ter sido admirada por outros. Nossos corpos se entrelaçaram num ritmo quase frenético, e pela primeira vez, ouvi-o sussurrar palavras que iam além do amor — falou sobre desejo compartilhado, sobre prazer multiplicado quando há olhares curiosos ao redor.
Mas o jogo só cresceu. Em seguida, vieram os pequenos testes: um passeio por uma loja de sapatos onde ele me encorajou a permitir que o vendedor visse mais do que deveria; um vestido mais justo, um salto mais alto, um movimento propositalmente lento ao me abaixar. Cada gesto parecia ensaiado, cada detalhe, calculado para provocar. E eu, que inicialmente resistia, comecei a sentir prazer nisso tudo. Na sedução indireta, na cumplicidade tácita entre nós dois.
Até que a viagem a Foz do Iguaçu mudou novamente as cartas da mesa.
Foi lá que conhecemos Roberto — um homem comum à primeira vista, mas que carregava um sorriso capaz de iluminar qualquer sala. Ele se aproximou de Vitor com facilidade, conquistando todos com seu humor afiado e suas histórias bem contadas. Mas eu percebia como seus olhos me acompanhavam discretamente, como se tentasse decifrar algo que nem eu mesma compreendia ainda.
Vitor notou também. E dessa vez, não foi apenas um olhar cúmplice ou um comentário provocativo. Ele queria mais. Queria que eu fosse o centro das atenções — e que ele fosse o diretor desse espetáculo. Naquela noite no cassino, enquanto eu girava distraída em frente à máquina caça-níqueis, eles conversavam em tom baixo, trocando segredos que logo viriam à tona.
No quarto, a tensão era palpável. Beijamo-nos com paixão, mas havia algo diferente no ar. Seus toques eram mais insistentes, sua língua mais faminta. Quando me lambia, parecia querer extrair não apenas o gosto da minha excitação, mas também o controle da situação. E então veio a pergunta:
— Você se importaria se alguém assistisse?
Minha respiração parou. A imagem de Roberto surgiu imediatamente, como se já soubéssemos qual seria o próximo passo. Hesitei, confusa. Medo e desejo se misturavam. Mas Vitor insistiu, e eu, talvez por curiosidade, talvez por tesão, não disse não. E aquilo foi interpretado como consentimento.
Roberto chegou minutos depois, e ali estávamos: três corpos, múltiplos desejos, uma única cama. O primeiro encontro foi delicado, quase tímido. Mas conforme os beijos se tornavam mais profundos e os toques mais ousados, o clima mudou. As fronteiras se dissolveram.
Quando Roberto me penetrou pela primeira vez, senti algo dentro de mim se libertar. Não era apenas prazer físico — era a quebra de uma barreira simbólica. A esposa recatada, a mulher discreta, a parceira fiel… todas elas desapareceram naquele instante. Restou apenas eu — inteira, verdadeira, desinibida.
E Vitor, ao assistir, não parecia magoado ou traído. Pelo contrário: seus olhos brilhavam com o mesmo desejo que sempre alimentamos, mas agora tingido de algo novo. Orgulho. Admiração. Excitação pura por ver sua mulher gozar sob outro corpo.
O clímax foi intenso, quase assustador. Gemi como nunca tinha gemido, deixei-me levar por ondas de prazer que vinham de lugares diferentes, vindas de dedos, línguas, pênis… e de um desejo antigo que finalmente podia ser expresso livremente.
Depois, o silêncio voltou. Chegou devagar, como uma névoa após a tempestade. Estávamos suados, cansados, cheios do sêmen um do outro. Roberto dormiu rapidamente, mas Vitor permaneceu acordado, olhando para mim com um olhar que não soube decifrar.
No dia seguinte, nada foi dito. Como se tudo tivesse sido um sonho, ou talvez um pacto silencioso entre nós. Mas desde então, algo mudou. Não há mais fingimentos, não há mais máscaras. Somos quem somos — amantes livres, corpos que se entregam, desejos que se expandem.
E hoje, escrevo isso não como uma confissão, mas como um registro de libertação. Porque às vezes, é preciso romper com o que parece seguro para encontrar o que é real. E porque o desejo, quando vivido sem culpa, pode ser a maior das conexões humanas.




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