A Loira Que Desarmou O Vigilante
A rotina de Helena sempre fora previsível. Entre os corredores formais do banco e os sorrisos ensaiados no balcão, havia pouco espaço para surpresas. Ela era loira, de beleza suave e presença discreta, mas havia nela uma inquietação escondida sob a pele – uma vontade abafada de experimentar algo que quebrasse o cinza dos dias.
Foi quando ele apareceu.
Maurício, o novo vigilante da agência, tinha uma presença que não passava despercebida. Moreno de pele retinta, olhos atentos e corpo que exalava força contida, trazia no andar tranquilo um magnetismo silencioso. Casado, sim. Mas o casamento dele não apagava o brilho curioso que crescia nos olhos de Helena cada vez que o via.
Nos primeiros dias, trocaram apenas gentilezas formais. Mas num almoço casual, o olhar dele demorou um pouco mais sobre o dela. E então, como quem arrisca uma peça no tabuleiro da tensão, ela perguntou:
— E as loiras, Maurício? Gosta?
Ele sorriu com a segurança de quem já entendeu o jogo.
— Se forem como você, não há como não gostar.
A partir dali, o ar entre eles mudou. Os encontros após o expediente se tornaram frequentes — primeiro um chopp, depois beijos ansiosos dentro do carro estacionado em frente à casa dela, onde os minutos pareciam escorregar entre os dedos.
Quando a esposa de Maurício viajou para cuidar da mãe enferma, Helena soube: aquele seria o momento em que o desejo contido ganharia forma.
Naquela sexta-feira, ela se vestiu como quem prepara um ritual. Um vestido leve, perfume nos pulsos, e nos olhos, um brilho de desafio. Ele chegou poucos minutos depois. Trocou poucas palavras. Quando ele perguntou para onde iriam, ela respondeu com um sorriso inclinado:
— Meu quarto é logo ali em cima.
No silêncio do quarto, a tensão tomou forma no calor dos corpos que se buscaram. O toque dele era firme, as mãos ávidas exploravam sua cintura enquanto ela o conduzia até a cama. Ao despi-lo, Helena não escondeu o encantamento – havia uma beleza crua naquilo que se revelava, e um desejo antigo nela por descobrir sabores ainda não provados.
Com cuidado e intensidade, ela o conduziu ao prazer. Os beijos eram profundos, as mãos percorreram caminhos ousados. Mas mais do que técnica, havia entrega. Helena queria deixá-lo marcado, não apenas no corpo — mas na memória.
Ela explorou cada resposta dele com maestria: os gemidos baixos, o arrepio involuntário, a forma como os músculos se contraíam sob o toque. Subiu sobre ele como quem domina uma dança, olhos nos olhos, saboreando cada movimento, como se a cada impulso ela apagasse a imagem da esposa e escrevesse o próprio nome na pele dele.
Naquela noite, seus corpos se encontraram diversas vezes, em ritmos que variavam entre a doçura e a urgência. Ao final, deitados lado a lado, respiravam como se o mundo lá fora houvesse sumido por algumas horas.
Nos dias seguintes, o segredo se repetiu em tardes roubadas, beijos silenciosos e carícias murmuradas entre lençóis. Helena se via viciada naquilo – não apenas pelo prazer, mas pela sensação de poder, de transgressão, de ser desejada com tamanha fome.
Em uma dessas tardes, quando a conversa surgiu sobre o perigo daquilo tudo, ele respondeu com um sorriso entre o charme e a resignação:
— Uma mulher como você... não se deixa passar impune.
Ela sorriu. Sabia que havia se tornado mais do que uma amante escondida. Era o interdito, o proibido que se torna inesquecível.
Com o tempo, o romance clandestino precisou ser guardado em gavetas trancadas. Helena seguiu outros caminhos, casou-se, mudou de vida. Mas anos depois, ao reencontrar Maurício na rua, agora ao lado de uma loira muito parecida com ela, entendeu que havia deixado mais do que lembranças.
Havia se tornado a referência. O padrão. O eco de um desejo que, mesmo escondido, ainda queimava sob a pele de quem um dia a teve nos braços.




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