A Marreta Do Pedreiro

 
O sol da tarde escorria pelas paredes cruas da obra, tingindo de âmbar cada partícula de poeira suspensa no ar. Priscila ajeitava o elástico do short jeans enquanto observava, sem pressa, o quintal que se transformava em canteiro de reforma. Fazia semanas que o marido estava em viagem, e com ele haviam partido também os toques, os olhares e a sensação de ser desejada.
 
Foi então que o portão rangeu.
 
— Boa tarde, dona Priscila. Sou o Júlio, o pedreiro.
 
A voz dele ressoou como trovão abafado. Quando ela se virou, seus olhos encontraram um homem que parecia esculpido em bronze. Alto, braços torneados, a pele reluzente sob o suor e o sol. Havia algo nos olhos dele — uma pausa disfarçada, um olhar rápido demais para ser inocente.
 
Ela tentou manter a compostura. Mas havia um calor inesperado em seu ventre. Uma fome esquecida.
 
— Ah, sim... pode começar por ali, perto da piscina. Preciso dividir os ambientes — disse, num tom que tentava soar natural.
 
Enquanto ele inspecionava o espaço, os olhos dela fugiam involuntariamente para as costas largas, para os músculos que se moviam sob o tecido surrado da camisa. Havia algo primal ali, como se o corpo dele carregasse um idioma antigo, conhecido apenas pelo dela.
 
Mais tarde, quando o dia já se dobrava em sombras compridas e o som da água preenchia a casa, Priscila mergulhou no próprio silêncio. Estava sozinha no banho, os olhos fechados sob o vapor morno, quando a memória do corpo dele invadiu seus pensamentos sem pedir permissão.
 
As mãos desceram pelo seu corpo com hesitação e fome. Toques suaves que se transformavam em carícias decididas. A imagem dele — forte, suado, viril — apareceu nítida em sua mente. Ela arqueou o corpo, os dedos encontrando um ritmo. A respiração se acelerou. O prazer veio como uma maré crescente, arrastando com ele a solidão.
 
Do lado de fora, um vulto se afastava da janela.
 
Na manhã seguinte, Júlio chegou cedo. Não comentou sobre a noite anterior, mas havia algo diferente no jeito como os olhares se cruzaram. Não era mais apenas trabalho. Havia tensão. Havia promessa.
 
Priscila o observava pela fresta da cortina, as mãos trêmulas. O corpo dele parecia mais presente do que nunca. A cada martelada, uma lembrança do toque que não havia acontecido — ainda.
 
Mais tarde, quando a casa mergulhou no silêncio da madrugada, Priscila sentiu algo diferente. Um passo leve no corredor. Um som abafado de porta se abrindo. Ela deveria ter se assustado, mas não se moveu. Estava deitada de lado, o roupão entreaberto revelando a curva da coxa. E, como se soubesse que ele viria, sua pele já queimava em antecipação.
 
Ele se aproximou devagar, os dedos deslizando pela cintura dela, como se pedissem licença sem palavras. Ela virou o rosto, os olhos ainda entreabertos. Não disse nada. Só respirou mais fundo.
 
Júlio deslizou a mão por entre as pernas dela, sentindo o calor úmido que se acumulava ali. O beijo veio em seguida, quente, profundo, silencioso.
 
Quando ele a penetrou, foi como se seus corpos se reconhecessem. Nada bruto. Nada forçado. Apenas um encaixe inevitável, como se já tivessem se procurado por muito tempo.
 
Eles se moveram juntos. Gemidos contidos. Suor compartilhado. E, quando ela finalmente se rendeu, o corpo inteiro de Priscila se abriu como uma flor ao sol da manhã.
 
Na escuridão do quarto, eles não disseram palavra alguma. Mas algo ali havia sido compreendido.

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