A Noite em que Ela Voltou a Sentir

 
Vera sempre foi uma mulher de contrastes — firme nos propósitos, mas com a pele sensível aos sussurros do desejo. Aos trinta e dois anos, depois de um divórcio precoce, ela caminhava por entre as ruínas dos sonhos que antes pareciam certezas. Reconstruía-se: com uma nova carreira, novas ambições, um novo lar. Mas, sobretudo, com uma nova fome. Não de afeto barato — mas de presença. De toque. De verdade.
 
Naquele fim de tarde abafado, o escritório do advogado parecia uma cápsula de silêncio e ar-condicionado. A espera foi breve, mas não o suficiente para impedir que seus olhos cruzassem com os de um rapaz que servia café com naturalidade inusitada. Moreno, ombros largos, barba rente, uma juventude que não pedia licença, mas também não se desculpava por existir. Ele se chamava Rodolfo.
 
Vera não desviou o olhar. Estava cansada de fingir desinteresse. Cruel e doce ao mesmo tempo, ela descruzou as pernas com intenção silenciosa — só o suficiente para que um raio de luz revelasse a curva firme da coxa sob o vestido de linho claro. Ela percebeu a dilatação súbita nos olhos dele. Era o tipo de confirmação que não exigia palavras.
 
Mais tarde, já em casa, o telefone tocou.
 
— Dona Vera? — A voz dele, gentil. — A senhora esqueceu um documento. Posso levar até aí?
 
Ela poderia ter recusado. Mas não quis.
 
Vera trocou de roupa como quem prepara um palco: bermuda justa, camisa fresca, pés descalços. Quando Rodolfo chegou, o cheiro leve do sabão de barba ainda pairava entre eles. Ele entregou o papel e aceitou um uísque. A primeira dose trouxe à tona sorrisos contidos. A segunda, silêncios mais longos.
 
O olhar dele percorria as pernas dela como se fossem uma estrada antiga e bem conhecida. E quando sua mão finalmente pousou sobre a coxa dela, o gesto não causou surpresa — apenas um estremecer ansioso.
 
Ela o conduziu até o quarto com passos leves, mas firmes, como se o destino daquela noite já estivesse traçado muito antes do primeiro café. Os corpos se encontraram com fome e reverência. O toque de Rodolfo era simultaneamente bruto e terno. Ele a despia como quem desfaz um presente raro. Vera o observava entre suspiros, admirada com a urgência contida naquele homem jovem demais para ser apenas um estagiário.
 
A pele deles rangia de calor, o suor escorria lento pela curva das costas. Quando ele a deitou e seus lábios tocaram sua pele como uma oração carnal, Vera sentiu-se inteira e entregue — como se seu corpo tivesse esperado por aquele momento durante toda uma década de silêncios.
 
O mundo fora do quarto parecia distante. O tempo, suspenso. Os gemidos se transformaram em música abafada, os olhos se fecharam para dentro, e Vera foi sendo levada a um lugar onde prazer e liberdade se confundiam. Seu corpo se arqueava sob as mãos dele com a leveza de quem diz sim à própria natureza.
 
No fim, enquanto os corpos ainda ardiam, ela sorriu.
 
— Vai me ligar de novo?
 
Ele a puxou para perto, beijando sua testa com uma ternura inesperada. Não houve promessas. Apenas a certeza de que, naquela noite, ela não procurava por um companheiro, nem um macho — mas havia encontrado algo mais raro: um instante inteiro de pertencimento.

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