Confissões Depois do Expediente
Sônia era o tipo de mulher que parecia feita de intenções ocultas. Pequena de estatura, mas imensa em presença. Suas curvas — moldadas como se por capricho de escultor distraído — não passavam despercebidas, ainda mais quando envoltas em vestidos justos e tecidos que pareciam implorar por aderência. Os saltos, quase sempre finos e altos, soavam como declarações onde quer que passasse. Mas o que mais marcava era sua forma de caminhar — como se o chão fosse cúmplice de seus desejos mais secretos.
Ao lado de Caio, seu marido, ela encontrara algo raro: liberdade com consentimento. O casamento, embora recente, já carregava o peso de fantasias antigas e pactos silenciosos.
Foi numa noite qualquer, dessas em que o calor insiste em permanecer mesmo depois do banho, que ela chegou em casa com um olhar mais úmido que o habitual. Havia algo diferente na maneira como tirou os sapatos. Uma pausa no gesto, um suspiro indecifrável.
— O novo gerente me chamou pra tomar um drink depois do expediente — disse ela, sentando-se ao lado de Caio com os olhos semicerrados.
Ele, que sempre soube dos caminhos que o desejo dela poderia tomar, apenas a observou.
— E você vai? — perguntou, sem acusação, apenas com um leve aperto no peito.
Ela sorriu. Um sorriso pequeno, mas molhado de intenções.
Naquela noite, fizeram amor como se o corpo dela carregasse segredos recém-sussurrados por outro. Ele sentia. Na temperatura da pele, no ritmo da respiração, no descontrole dos gemidos. E sussurrou em seu ouvido, como quem brinca com fogo:
— Já imaginou se fosse ele te tocando agora?
Ela não respondeu com palavras. Apenas arqueou o corpo, aceitando o jogo.
Os dias seguintes se vestiram de insinuações. Sônia parecia dançar ao redor da tentação, até que cedeu ao convite. O encontro com Marcelo, o chefe de voz grave e presença assertiva, aconteceu primeiro num bar — mas foi no motel que os corpos se revelaram.
Mais tarde, ao retornar para casa, não havia culpa nos olhos dela. Havia calor. E uma urgência em contar. Caio ouvia com a respiração suspensa enquanto ela descrevia, em detalhes sussurrados, cada instante — o beijo roubado no estacionamento, o gosto dele ainda fresco na memória, a textura da cama, o som abafado dos saltos batendo no chão enquanto era tomada por trás.
Ela falava como quem revive. E ele escutava como quem se alimenta da fantasia.
Naquela noite, o prazer entre eles teve gosto de transgressão consentida. Ele a despiu com olhos famintos, e ela se ofereceu como quem ainda ardia por dentro. A pele dela trazia resquícios de outro, mas o desejo, agora, era todo dele.
O que se seguiu foram noites marcadas por confidências, confissões e novas permissões. Marcelo tornou-se um personagem recorrente no teatro íntimo dos dois. Não havia traição — havia dramaturgia. Um pacto onde desejo e lealdade se entrelaçavam sem nó.
E quando, meses depois, Marcelo foi transferido para outra cidade, Sônia sentiu o peito leve. Não por alívio, mas por saber que ainda havia histórias a serem vividas — e contadas.
Naquela manhã, preparando o café, ela sorriu ao ouvir os passos de Caio se aproximando.
— Hoje à noite — disse com os olhos acesos — tenho algo novo pra te contar.




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