Encontro Impróprio
A tarde em São Paulo parecia um espetáculo melancólico de nuvens carregadas e trovões abafados. A cidade, entupida pelas águas que insistiam em não cessar, havia se transformado num emaranhado de vias alagadas, buzinas nervosas e faróis apagados pela neblina.
Débora estacionou o carro na esquina de uma rua lateral, olhando aflita pela janela embaçada. Estava exausta, encharcada, e com o celular quase sem bateria. Tentava chegar até o filho, que aguardava no metrô, mas os caminhos estavam intransitáveis.
O telefone vibrou.
— Débora? — a voz masculina do outro lado soava firme e familiar. — Tô perto de você. Me espera aí, vou te buscar.
Era Daniel, seu cunhado.
Minutos depois, os faróis altos da caminhonete dele cortaram a neblina. Um breve toque de buzina e um gesto com a mão foram suficientes. Ela ligou o motor, fez a volta e o seguiu sem pensar duas vezes.
Tomaram rotas alternativas, cruzando avenidas submersas e vielas desconhecidas, até que ele parou em frente a uma entrada discreta — um antigo drive-in quase esquecido na memória da cidade.
— É mais alto aqui. Vamos esperar a chuva passar — disse, abrindo o guarda-chuva e caminhando até o carro dela.
Ela não questionou. Só assentiu com um sorriso tenso. Havia algo naquele convite improvisado que a desconcertava... e a excitava.
Dentro da caminhonete, o barulho da chuva batia no teto como um metrônomo hipnótico. Quando as cortinas foram puxadas pelas atendentes, fechando-os no box privado, o mundo externo pareceu desaparecer.
— Situação estranha, não acha? — ela comentou, ajeitando a mecha molhada que caía sobre os olhos.
— Talvez... — ele respondeu. — Ou talvez seja uma oportunidade única.
Silêncio.
Os olhos dela buscaram os dele. Não havia inocência ali. Apenas hesitação. E desejo contido.
Ele se aproximou devagar, como quem não queria acordar um feitiço. Sua mão tocou o rosto dela com a leveza de quem descobre o contorno de um segredo antigo. Ela fechou os olhos. Encostou o rosto em seu ombro. Quando os lábios se encontraram, não houve surpresa. Apenas um reconhecimento.
O beijo foi calmo, depois intenso, depois urgente. Como se os anos de silêncio tivessem culminado naquele instante. Ela tremia. Não de frio — mas de antecipação.
As mãos dele desabotoaram com cuidado os botões da camisa dela. Os olhos, atentos, absorviam cada pedaço de pele que se revelava. A blusa caiu sobre o banco. O sutiã, puxado com delicadeza, cedeu espaço para a pele nua e o calor do toque. Os seios dela se ergueram ao encontro da boca dele, e o gemido que escapou foi mais um suspiro do que uma palavra.
Quando ela desceu a mão até a cintura dele, os dedos trêmulos encontraram a rigidez do desejo pulsando sob o tecido. Ela o acariciou com precisão e doçura, como se tocasse uma nota conhecida em um instrumento antigo. Logo estavam nus. Dois corpos escondidos do mundo, expostos um ao outro.
Ele a deitou com cuidado no banco, beijando-a com lentidão. A chuva, lá fora, continuava a cair — mas lá dentro, tudo era fogo.
Os lábios dele percorreram sua pele como uma brisa quente. Desceram pelo ventre até o centro da vontade dela. Quando sua língua a encontrou, ela arqueou o corpo como se recebesse um sopro de vida. Seus dedos se entrelaçaram nos cabelos dele, o corpo entregando-se por completo àquela dança silenciosa entre desejo e rendição.
Ela gozou com intensidade, os olhos semicerrados, os lábios entreabertos, o corpo tremendo como folha molhada ao vento.
Quando os olhares se reencontraram, ele puxou sua mão para o próprio corpo. Ela compreendeu. O acariciou devagar, depois com a boca, com fome e reverência. Ele sussurrou que ia gozar. E ela o segurou com firmeza, recebendo-o por inteiro, até que ele estremecesse nos braços dela, preenchendo seu silêncio com a respiração acelerada.
— Agora estamos quites? — ela murmurou, limpando os lábios com um sorriso cúmplice.
Ele não respondeu. Apenas a puxou para si, abraçando-a em silêncio.
O celular tocou.
— Achei a Débora — disse ele à esposa. — Estamos esperando a chuva passar, está tudo bem.
Ela ouviu. Sorriu. E sussurrou no ouvido dele:
— Parece que ainda temos tempo…
O desejo ressurgiu. Renasceu das cinzas do que haviam acabado de viver. Ele a posicionou de frente, deitou-a novamente, e a penetrou com firmeza e delicadeza. Ela o acolheu inteira, o corpo vibrando em cada estocada, os gemidos abafados pela chuva e pelas paredes da caminhonete.
Não houve gritos. Não houve vulgaridade. Apenas dois corpos, duas vontades antigas, selando um segredo sob o som da tempestade.
Depois, quando já estavam recompostos, trocaram um último beijo — o tipo de beijo que não termina nos lábios, mas ecoa na memória.
Ao se despedirem, ele perguntou:
— E agora? Como estamos?
Ela olhou fundo nos olhos dele.
— Com saudades… Mas vamos deixar que a casualidade nos ajude outra vez.
E então sussurrou:
— Até o fim do mês eu te ligo… e dou um empurrãozinho nela.




Comentários
Postar um comentário