O Desejo Entre Enteada e Padrasto

 
Era uma tarde como outra qualquer, mas o ar parecia mais espesso, como se o tempo tivesse desacelerado para dar lugar ao que estava por vir. Micaela estava sozinha em casa, ou quase. Seu padrasto, Lucas, tinha vindo buscar alguns documentos que seu pai havia deixado guardados no escritório. Ele sempre fora discreto, quase solene em sua presença, e ela, por educação, mantinha a distância que a relação impunha. Afinal, ele era casado com sua mãe, e ela, filha de outro leito, de outra história.
 
Mas naquela tarde, havia algo diferente. Talvez fosse o calor que pesava no ar, ou o silêncio profundo da casa vazia. Ou talvez fosse o olhar de Lucas, que, por um instante — quase imperceptível —, demorou-se nela mais do que o normal.
 
Micaela usava um vestido leve, de algodão, que caía solto sobre o corpo, mas que, com o movimento de se abaixar para pegar um copo na geladeira, delineou suas formas de forma quase involuntária. Ela não percebeu, ou fingiu não perceber, que ele a observava da soleira da cozinha, uma prancheta nas mãos e os olhos semicerrados, como quem tenta decifrar um enigma.
 
— Precisa de ajuda com alguma coisa? — perguntou ela, sem olhar diretamente para ele.
 
— Não, obrigado. Já estou quase terminando — respondeu ele, com a voz baixa, quase rouca.
 
Ela serviu água num copo e bebeu devagar, sentindo o líquido frio descer pela garganta, mas sem conseguir ignorar a tensão que pairava no ar. Havia uma energia entre eles, tênue e pulsante, como um fio elétrico prestes a estourar.
 
Lucas voltou para o escritório. Micaela o ouviu mexer nas gavetas, folhear papéis. Um barulho surdo, como se algo tivesse caído, a fez levantar. Foi até o corredor, hesitante, e o encontrou de joelhos, recolhendo pastas espalhadas pelo chão. Seu paletó estava aberto, a camisa social colada ao corpo pela transpiração leve do calor da tarde.
 
— Deixe que eu ajudo — ofereceu ela, abaixando-se ao seu lado.
 
Seus braços se roçaram ao mesmo tempo em que pegavam o mesmo papel. Foi um toque mínimo, quase acidental, mas carregado de uma eletricidade que os fez paralisar. Micaela ergueu os olhos e viu nele algo que não esperava: desejo. Puro e inadiável.
 
Lucas não falou. Não precisava. Seus dedos encontraram os dela, e o gesto foi lento, deliberado. Micaela não recuou. Deixou-se envolver pela quentura daquele toque, pela pressão suave que ele exercia sobre sua mão. Seu coração acelerou, e um calor diferente começou a se espalhar por dentro dela, como uma onda que vinha do ventre e subia em direção ao peito.
 
Ela sentiu o cheiro de seu perfume — cedro e âmbar — e se viu atraída por ele, como se já o conhecesse de antes, de sonhos que não se lembrava. Lucas aproximou-se, devagar, como quem teme assustar um pássaro. Seu rosto ficou a centímetros do dela, e Micaela não fechou os olhos. Queria ver. Queria sentir. Queria saber se era real.
 
Os lábios dele tocaram os dela com a suavidade de uma promessa. Um beijo que não era de pressa, mas de descoberta. Micaela entreabriu os lábios e o recebeu, sem pressa, sem medo. Era como se aquele momento tivesse estado à espera deles por muito tempo, adormecido sob camadas de convenções e silêncios.
 
Lucas a conduziu até o sofá do escritório, onde o couro marrom parecia guardar o calor do sol que entrava pela janela. Lá, ele deslizou o vestido pelos ombros dela, revelando a pele delicada, a curva dos seios que se erguiam com a respiração acelerada. Ele a beijou ali também — no pescoço, na clavícula, na lateral do seio — com a reverência de quem adora um altar antigo e secreto.
 
Micaela sentiu-se desfazer em cada toque, em cada suspiro que escapava de seus lábios. Era estranho e familiar ao mesmo tempo. Era errado e perfeito. Era como se seu corpo tivesse despertado de um sono profundo, e agora exigisse tudo: o calor, a entrega, o abandono.
 
Quando ele a penetrou, foi devagar, como se a estivesse conhecendo desde sempre. Micaela envolveu sua cintura com as pernas, puxando-o para mais perto, como se quisesse que ele a atravessasse por inteiro. E ali, no silêncio daquela sala, sob o murmúrio distante do vento nas cortinas, ela gozou — primeiro em silêncio, depois com um gemido abafado que ecoou dentro dela como um trovão distante.
 
Depois, ficaram em silêncio. Lucas deitado ao seu lado, a testa suada encostada na dela. Micaela olhava para o teto, sem saber se devia sentir vergonha ou orgulho. Sentia-se plena. Como se tivesse encontrado, por um instante, uma parte de si que não sabia que estava perdida.
 
Ele se levantou primeiro, ajeitou a roupa com cuidado, e a olhou com algo que parecia ser mais do que desejo — era cumplicidade. Micaela se vestiu em silêncio, e quando ele saiu, fechou a porta atrás de si sem dizer uma palavra.
 
Ela ficou ali, sentada no sofá, sentindo o cheiro dele ainda em sua pele. Sabia que aquilo não poderia se repetir. Que era um momento único, como um raio que corta o céu e some antes que se possa desenhar seu caminho.
 
Mas naquela tarde, Micaela havia sido inteiramente si mesma. E isso, de alguma forma, era o mais erótico de tudo.

Comentários

Postagens mais vistas