O pintor que me pintou por dentro
A reforma do apartamento ainda exalava cheiro de tinta fresca e pequenos incômodos não resolvidos. O calor escorria pelas paredes como suor em pele morena. Com o ar-condicionado funcionando mal e a cidade vibrando sob o sol de dezembro, Elisa se recolhera à sombra da sala, vestida apenas com uma camiseta fina e uma calcinha mínima — combinação mais de sobrevivência que de vaidade.
Era uma tarde morna e silenciosa. A mãe havia saído para resolver pendências, e Elisa, entregue ao tédio e ao barulho leve das folhas do caderno, não esperava mais ninguém. Até que o interfone soou.
— Um pintor está aqui. Disse que tem um orçamento marcado com sua mãe.
Após confirmar com a mãe pelo celular, ela permitiu a entrada. Só então percebeu sua roupa — ou a ausência dela. Pensou em trocar. Mas hesitou. E não o fez.
Quando a campainha tocou, olhou discretamente pelo olho mágico. Um homem alto, grisalho, expressão marcada. Tinha a presença silenciosa de quem já conheceu o desejo — e as pausas entre ele.
Abriu a porta. O olhar dele percorreu seu corpo com a lentidão de quem aprecia o que vê. Ela notou. E gostou de ser notada.
— Pode entrar — disse com um sorriso breve, antes de guiá-lo pelos cômodos.
À medida que caminhava à frente dele, sentia o ar ficando mais denso. A camiseta colava-se ao seu corpo com a umidade do verão, revelando silhuetas que o olhar masculino não tentava disfarçar. Elisa percebia. E deixava.
Na lavanderia, inclinou-se sobre o parapeito para mostrar uma mancha de umidade escondida entre duas paredes. Ficou na ponta dos pés, o quadril mais alto, o tecido subindo devagar. O gesto era casual — mas não inocente.
— É aqui, olha… — disse, sem se virar.
Ele se aproximou devagar. O calor do corpo dele atrás do seu acendeu algo em sua pele. Quando os dedos dele roçaram, talvez sem querer, a curva de seu quadril, ela prendeu a respiração — e não recuou. Ficou ali, imóvel por um instante que durou mais que o necessário.
Elisa virou-se, encarando-o. Seu olhar agora era firme, quase um convite calado. O silêncio entre os dois vibrava.
— Você... me olhou assim desde que chegou — murmurou, a voz rouca, próxima da dele. — Está me desejando, não está?
Ele não respondeu. Apenas a encarou como se as palavras fossem inúteis.
Foi ele quem tomou a iniciativa de tocá-la com mais firmeza. As mãos pousaram em sua cintura com cuidado, mas com decisão. Ela o permitiu. Não havia pressa, apenas calor, desejo contido e finalmente libertado.
O ambiente parecia suspenso entre o som do ventilador e o pulsar dos dois corpos. Beijos demorados, toques deslizando por pele úmida, roupas retiradas como quem desembrulha algo proibido. Quando ele a carregou até o quarto, Elisa se deixou levar com a leveza de quem quer ser conduzida — e, ao mesmo tempo, domina o jogo.
O lençol amassado, a luz dourada filtrando-se pela cortina fina, a dança dos corpos. Os gemidos abafados, os olhares compartilhados. O desejo crescia com ritmo e elegância, como música lenta.
Ela não queria pressa. E ele parecia entender isso. Cada gesto era uma resposta ao outro, cada toque uma pergunta sem palavras.
Quando o prazer a tomou por inteiro, veio com intensidade e entrega. Seus olhos se fecharam com força, os dedos apertaram o lençol, o corpo se curvou como onda recebendo a maré.
E então, o silêncio.
Ele se vestiu com calma. Ela, enrolada no lençol, acompanhou-o até a porta. Antes de sair, ele virou-se e disse:
— Se eu soubesse que a tarde me reservaria isso… teria vindo antes.
Ela apenas sorriu, com aquele olhar de quem sabe mais do que diz. Quando a porta se fechou, Elisa voltou ao quarto. Sentou-se na beira da cama, ainda sentindo o calor na pele e no pensamento.
Nem sempre o prazer precisa de planos. Às vezes, basta uma tarde qualquer, um corpo quente e uma porta entreaberta para que tudo aconteça.




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