O Que Acontece Quando Ele Dorme

 
Era sábado à noite, e tudo o que Laura queria era o silêncio morno de um banho demorado, seguido do frescor de lençóis limpos e de um quarto em penumbra.
 
Mas Marcos, seu namorado, havia insistido — como sempre fazia quando se tratava de festas. Ele usava aquela empolgação ruidosa que ignorava o cansaço dos outros, como se a noite só tivesse valor quando compartilhada em voz alta.
 
Ela resistiu em silêncio, por alguns segundos longos demais. E então cedeu, com um suspiro resignado e um olhar vazio para o armário.
 
Vestiu uma blusinha preta, tomara que caia, que escorria pelos ombros como um segredo. Um short branco justo delineava suas curvas com um frescor displicente. A sandália deixava seus pés leves, como se estivesse prestes a dançar, mesmo sem ter a intenção. No espelho, ela se viu pronta — e por um segundo, gostou do que viu.
 
Chegaram à festa quando o som já reverberava pelas janelas abertas. A casa estava viva — copos tilintando, luzes coloridas filtrando pela fumaça fina do calor humano, e corpos que se entrelaçavam entre danças, risos e goles apressados. Marcos rapidamente foi puxado para um canto, cercado por velhos amigos e assuntos de trabalho. Laura ficou sozinha por instantes que pareciam longos demais.
 
Foi ao freezer em busca de algo gelado. Lá, um homem alto e de pele escura lhe estendeu uma garrafa. Havia um magnetismo discreto nele — uma firmeza silenciosa no olhar, músculos tensos sob a camisa leve, uma calma que quase desafiava a agitação ao redor.
 
— Evandro — disse ele, com um sorriso torto, e estendeu a mão.
 
Ela respondeu com o nome, um sorriso e um leve toque de dedos. Ele pediu seu número como quem oferece um convite, e ela deu como quem aceita um jogo. Sabia que não iria adiante — ou ao menos achava que sabia.
 
Mais tarde, Marcos estava visivelmente bêbado. Muitos convidados já haviam partido, e os anfitriões ofereciam colchões e cobertores para quem decidisse ficar. Eles aceitaram. O quarto era pequeno, abafado. Um abajur alaranjado iluminava os cantos com timidez. Marcos desabou na cama. Laura ainda estava desperta.
 
O álcool em sua corrente era menos anestesia do que estímulo. Deitada ao lado dele, tentou tocar, provocar, reanimar. Mas Marcos estava longe, entregue ao torpor do excesso. Ela suspirou, entre frustração e desejo, e se levantou para apagar a luz.
 
O celular vibrou sobre o criado-mudo.
 
Evandro.
 
— “Ainda acordada, princesa?”
 
Ela hesitou. O calor entre as pernas era mais presente do que o travesseiro sob sua cabeça.
 
— “Sim. Tudo silencioso aqui…”
 
A resposta veio com um atrevimento que não parecia buscar permissão.
 
— “Não paro de imaginar você naquela blusa preta… Me deixaria te ver de novo?”
 
Laura olhou para Marcos. Dormia pesado, o corpo murcho no colchão. A resposta que ela digitou não trazia promessas — apenas uma insinuação.
 
— “A porta está entreaberta. Se quiser conversar baixinho…”
 
O tempo desacelerou. Minutos depois, o rangido sutil da madeira denunciou a presença. Evandro entrou como uma sombra quente, sem camisa, o peito largo riscado por músculos silenciosos. A bermuda de seda se movia a cada passo lento. Laura já estava ajoelhada no tapete, os olhos baixos, o corpo trêmulo, como se soubesse exatamente o que queria.
 
Ele não falou. Tampouco ela.
 
O toque veio sem violência, mas com intensidade. Ela levou a mão até o elástico da bermuda dele e, num gesto lento, revelou a rigidez que pulsava sob o tecido. Sentiu o cheiro de suor limpo, algo terroso e masculino. Quando seus lábios tocaram o membro dele, o mundo ficou pequeno — apenas o som abafado da respiração, o calor invadindo sua boca, e o medo excitante de um movimento vindo da cama.
 
Evandro gemeu baixo, os dedos firmes nos cabelos dela. Mas era Laura quem guiava. Era ela quem escolhia o ritmo, o momento, a entrega.
 
Então virou-se. Cotovelos no chão, quadris erguidos, calcinha de lado. Sussurrou apenas:
 
— Devagar…
 
Ele saiu por um instante e voltou com as mãos úmidas de condicionador. A preparação foi cuidadosa. O toque dele na entrada foi lento, respeitoso, quase reverente. A pressão veio como um trovão mudo, abrindo espaço em um corpo que, ao mesmo tempo, resistia e implorava.
 
As estocadas começaram compassadas, preenchendo-a por dentro e por fora. O som abafado dos corpos se chocando era uma melodia proibida. O prazer era cortante, mas doce. A cama atrás continuava a abrigar um corpo alheio, mas isso só alimentava a tensão, o perigo, o sabor do que não devia ser vivido — mas estava sendo.
 
Laura mordeu os lábios. As lágrimas quase vieram, não de dor, mas de intensidade. O orgasmo surgiu como uma vertigem silenciosa. Evandro sussurrou algo rouco perto de sua nuca. E então, o calor da entrega dele se espalhou dentro dela como um selo — morno, latejante, inesquecível.
 
Ele se levantou, vestiu-se em silêncio e saiu como uma brisa que fecha a porta devagar.
 
Ela ficou ali. Por minutos. Deitada no chão, corpo ainda vibrando, pele ardendo. Então se recompôs, vestiu o short branco, deitou-se ao lado de Marcos e fechou os olhos.
 
Ele ainda dormia.
 
Mas ela… ela estava acesa por dentro.

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