Um Desejo Antigo Pelo Ex-Cunhado

 
Havia algo de suspenso naquela casa antiga — talvez os azulejos frios demais para o verão ou os corredores que pareciam guardar memórias em repouso. Laura, recém-divorciada, tinha se mudado temporariamente para a casa da ex-sogra. O fim do casamento não deixara cicatrizes visíveis, mas em seus olhos havia um cansaço miúdo, daqueles que o tempo não apaga com facilidade.
Naquela semana, André, cunhado dela por laços antigos e afetos mal resolvidos, vinha de visita para rever a filha e a avó. A convivência com Laura era estranhamente natural. Ambos já ultrapassavam os 40, e embora os corpos denunciassem maturidade, os olhares ainda sabiam flertar com a juventude do desejo.
 
Naquela noite abafada, ela se recolheu mais cedo. Ele, insone, caminhou descalço até a cozinha em busca de um copo d’água. O corredor, semi-iluminado pela penumbra do abajur, revelou uma cena que lhe prendeu o passo: Laura estava ali, sentada no chão frio, olhos marejados e ombros caídos. Chorava baixinho, como quem não quer incomodar o mundo.
 
Sem hesitar, ele se aproximou e a envolveu em um abraço. O corpo dela, firme e morno, se moldou ao dele com uma familiaridade desconcertante.
 
— Quer deitar um pouco comigo? — murmurou, sem saber ao certo de onde vinha aquela coragem.
 
No quarto, o lençol era fino, quase translúcido, e o ventilador soprava um vento inútil. Deitados lado a lado, trocaram palavras mansas, feitas mais de silêncios do que de sons. Quando ela se virou de costas, ele a abraçou por instinto. O calor de suas costas contra o peito dele despertou algo que o corpo não soube esconder.
 
Ela notou. Seu riso foi curto, entre divertido e surpreso.
 
— Está mesmo assim… só por estar perto de mim?
 
Ele respondeu com um sussurro atrevido, mais brincadeira que confissão. Mas havia verdade ali. Sempre houvera.
 
Laura não disse mais nada. Apenas afastou o lençol com um gesto quase cerimonial e, em um movimento suave, despiu-se. O gesto não era convite — era entrega.
 
O quarto escureceu, mas a escuridão só aumentou o brilho dos sentidos. O ar parecia mais espesso, o silêncio mais ruidoso. A ponta dos dedos de André encontrou a pele dela como se tocasse música. Deslizava com precisão, mas também com cuidado, como quem conhece o valor da espera.
 
Ela arqueou o corpo quando ele explorou os caminhos íntimos com a boca, em movimentos ritmados, quase devocionais. Os gemidos dela soavam abafados pelo travesseiro, e cada suspiro era como um segredo partilhado entre os lençóis.
 
Laura, então, inverteu os papéis, assumindo o controle com uma suavidade feroz. Montou sobre ele como quem conhece o próprio poder, os cabelos soltos fazendo sombra sobre seus olhos, enquanto a respiração deles se misturava entre toques e olhares.
 
O prazer era uma coreografia muda, feita de encaixes, fricções, pequenos arrepios e murmúrios sem língua. O corpo dela se entregava, mas nunca perdia o domínio. Quando enfim se fundiram por completo, havia mais do que desejo: havia cumplicidade.
 
O tempo ali se alongou — talvez em minutos, talvez em lembrança.
 
Mais tarde, ele pensou que o silêncio voltaria a dominar o quarto. Mas ela, nua e ainda quente, virou-se para ele com um sorriso atrevido.
 
— Vai encarar de novo? — provocou, ao notar o recomeço pulsando sob o lençol.
 
Dessa vez, ela se ofereceu de costas, devagar. O gesto era quase um desafio. E ele aceitou, com reverência. O segundo encontro foi mais denso, como um vinho encorpado. Seus corpos se moviam entre gemidos abafados e dedos entrelaçados. Ela mordia o lábio enquanto sentia-se preenchida de um modo novo, como se algo inexplorado se abrisse dentro dela.
 
E quando o clímax os tomou pela segunda vez, foi como se tivessem selado um pacto. De prazer, sim — mas também de escuta, de presença, de desejo que não se explica, apenas se vive.
 
No dia seguinte, ela caminhava pela casa com os pés descalços e o rosto sereno. Como se a noite tivesse deixado marcas invisíveis na pele, mas visíveis no olhar.
 
E André, ao observá-la de longe, soube que aquele silêncio compartilhado era, talvez, o maior gesto de intimidade que já haviam vivido.

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