Uma Sede De Tesão

 
A noite caiu preguiçosa sobre o bairro, envolvendo tudo em um silêncio cortado apenas pelo zumbido distante de televisores e o canto aleatório de algum grilo atrasado. Na sala, iluminada por uma luminária âmbar, Melissa folheava o tablet com dedos inquietos. Seus olhos se demoravam em palavras carregadas de tensão e desejo — histórias que dançavam entre as páginas digitais com uma intimidade quase cruel.
 
Cada frase lida era como um sussurro na nuca. Um arrepio na espinha. A realidade dissolvia-se lentamente, enquanto sua pele respondia ao convite invisível daquelas fantasias. Sentia o calor subir entre as coxas, o ventre latejante, o corpo ansioso por algo que ainda não sabia se viria.
 
Com um impulso quase infantil, mas cuidadosamente calculado, ela digitou uma mensagem simples:
 
“Oi, será que você poderia me trazer uma garrafa d’água? Acabei de chegar do trabalho e não tive tempo de passar no mercado.”
 
O destinatário era Caio, colega antigo do marido, que gerenciava um bar ali perto. A resposta veio rápida:
 
“Só consigo passar depois da meia-noite, tá tudo uma loucura aqui. Pode ser?”
 
Melissa sorriu. “Depois da meia-noite.” Soava como uma senha secreta. Um feitiço. Um pretexto perigoso.
 
Levantou-se, foi ao banheiro. A água da ducha deslizou pelo corpo como dedos imaginários. Ao sair, secou-se com lentidão, como se cada gesto preparasse o palco para algo indefinido. Vestiu um vestido curto e translúcido, os seios soltos, o corpo livre — e sem nenhuma calcinha. Queria sentir o frescor do tecido roçar a pele. Queria ser tocada até sem ser tocada.
 
O tempo escorreu lento, até que um leve toque na campainha quebrou o encanto. Seu corpo respondeu antes da mente — os músculos contraíram-se, a pele vibrou. Melissa caminhou até a porta como quem caminha para um ritual. Quando abriu, viu Caio de pé, com o cabelo desgrenhado e a camiseta ligeiramente colada ao peito.
 
— Trouxe a água… — disse, com um sorriso que não sabia se era constrangido ou curioso.
 
Ela o convidou a entrar com um gesto calmo, quase indiferente. Ele aceitou. Mas ao cruzar a sala, seus olhos desceram pela linha do vestido até o espaço entre as pernas dela, onde a ausência de tecido sussurrava segredos.
 
— Você... quer sentar um pouco? Já jantou? — perguntou ela, cruzando lentamente as pernas no sofá, sabendo exatamente o que mostrava.
 
— Já jantei, obrigado... — respondeu ele, desviando o olhar, a voz vacilante.
 
O silêncio que se seguiu foi denso como névoa. Ele se levantou, alegando cansaço, e ela o acompanhou até a porta. Mas ali, no estreito da entrada, Melissa encostou-se propositalmente contra ele — a curva da sua cintura roçando na rigidez que ele tentava esconder.
 
O gesto foi elétrico. Caio ficou estático por um segundo. Ela então virou-se lentamente, os olhos firmes, a boca entreaberta, e levou a mão até o volume pulsante sob a calça dele. Ele não disse nada. Tampouco recuou.
 
Melissa o puxou pela camisa, com a calma de quem conduz um segredo ao escuro. Encostou-o na parede, ajoelhou-se no tapete, e deixou os lábios deslizarem em um gesto silencioso de entrega. O som do zíper ecoou como um trovão abafado.
 
Mas foi ela quem ditou o ritmo. Com calma. Com reverência.
 
O corpo de Caio reagia à intensidade dela, e os dedos dele encontraram a pele molhada entre suas coxas. Ela estava em brasa. Viva. Pronta.
 
Sem palavras, ele a girou com cuidado, encostando-a na parede, inclinando-a com firmeza. As mãos dele desceram pelas suas costas, ajustando-lhe a postura, abrindo o caminho para o que vinha.
 
O toque veio devagar. Com a paciência cruel de quem sabe exatamente onde e como entrar.
 
Melissa arfava. As mãos contra a parede, o rosto voltado para o nada, os olhos fechados como quem reza. Cada movimento dele era uma dança entre dor e deleite. Um jogo de ritmos, de pressão, de instintos desatados. E no meio disso, as palavras dele — roucas, intensas — não a ofendiam, mas incendiavam.
 
Ela não era submissa ali. Era sacerdotisa do próprio desejo.
 
E quando o ápice chegou, foi como um terremoto contido. O corpo dela tremia, mas sem barulho. As pernas vacilaram. O gosto do momento ficou preso entre os dentes, como um segredo que jamais se confessaria.
 
Caio vestiu-se em silêncio. Deu-lhe um último olhar demorado antes de sair, deixando para trás um perfume amadeirado e o som da porta que se fechava devagar.
 
Melissa permaneceu ali por alguns minutos. Depois caminhou lentamente até o quarto. Deitou-se na cama ainda quente, ao lado do espaço vazio do marido. Fechou os olhos com um leve sorriso nos lábios.
 
A madrugada ainda tinha sede. Mas ela, não mais.

Comentários

Postagens mais vistas