Entre a Dor e o Prazer
A casa respirava no silêncio da madrugada. Um silêncio espesso, quase úmido, como se o ar carregasse o peso de algo prestes a acontecer. Fora, a cidade dormia. Dentro, ela não conseguia. Lina, de costas para a janela entreaberta, sentia o tecido leve da camisola colar-se à pele. O verão não era só temperatura — era um estado do corpo. E o dela, aos dezoito anos, ainda era um território em construção: desejos mal compreendidos, impulsos que vinham como rajadas, medos que se disfarçavam de pudor.
Ele estava deitado ao seu lado. Rafael. O namorado. O amigo de infância que, de repente, passou a ocupar seus pensamentos com uma intensidade nova. Não era só atração. Era presença. Ele parecia saber coisas sobre ela que ela mesma ainda não havia descoberto.
Naquela noite, ele chegara abalado. Uma briga em casa, palavras duras, portas batidas. Sem onde ficar, foi para o apartamento dela — o pequeno refúgio no fim da rua, cercado por jardins e isolado do mundo. Ela o recebeu sem hesitar. Deitaram-se lado a lado, como sempre fizeram. Mas, pela primeira vez, o gesto de ele apoiar a cabeça em seu peito não foi fraterno. Foi um território invadido com ternura.
Ela permitiu.
O tempo foi se alongando. A respiração dele, no ritmo lento do sono fingido. A mão, que começou a deslizar por cima do tecido, hesitante, como quem pede permissão sem palavras. Ela prendeu o ar. Não disse não. Disse apenas, em um sussurro trêmulo:
— Ainda não estou pronta.
Ele não respondeu com voz. Respondeu com toque. Um dedo, depois dois, desenhando círculos suaves, explorando o limite entre o permitido e o proibido. Ela sentiu o corpo reagir antes da mente — um calor que subia do ventre, um formigamento nos lábios, um gemido que escapou baixo, quase um soluço. Era vergonha? Medo? Ou o início de um prazer que ela nem sabia que podia existir?
Quando percebeu que seus pulsos estavam presos — não com violência, mas com uma fita de seda que ele havia trazido, como se planejado —, o pânico surgiu. Tentou se mover. As pernas também estavam amarradas, levemente afastadas. O coração acelerou. Mas, em vez de gritar, olhou para ele. E viu não um invasor, mas um devoto. Alguém que a observava como se estivesse diante de algo a ser renerado.
— Você pode dizer não a qualquer momento — ele murmurou, a voz rouca, mas calma. — Mas se disser sim… eu levo você até o fim.
Ela não respondeu com palavras. Arqueou o corpo. Um convite silencioso.
O que veio depois não foi domínio. Foi descoberta. Cada toque era uma pergunta. Cada gemido, uma resposta. Ele a explorou com uma paciência quase religiosa — dedos, lábios, respiração quente no colo, no pescoço, entre as coxas. E quando, pela primeira vez, ele a tocou ali, onde nunca ninguém havia ido, ela sentiu um choque que não era só físico: era como se uma porta secreta se abrisse dentro dela.
— Isso vai doer — ele avisou.
— Eu sei — ela respondeu, os olhos fechados, a voz firme. — Mas quero.
E então, devagar, com uma lentidão que beirava o sofrimento, ele a penetrou. Não com pressa. Com reverência. O corpo dela resistiu, depois cedeu. A dor foi real, aguda, mas logo se misturou a uma sensação estranha, profunda, quase mística. Era como se, ao ser invadida, ela se encontrasse. Como se, na entrega, ganhasse controle.
Quando o orgasmo veio, foi silencioso. Um espasmo interno, um suspiro longo, um corpo que se esvaiu por inteiro. Ela chorou. Não de dor. De alívio. De reconhecimento.
Mais tarde, quando as cordas foram desatadas e ela se levantou, cambaleante, ele não a seguiu. Deixou que ela caminhasse até a porta, que sentisse o vento da noite na pele nua. Ela saiu. Não para fugir. Para respirar. Para entender o que havia acontecido.
Quando voltou, não disse nada. Apenas se deitou ao lado dele. E, pela primeira vez, foi ela quem puxou o corpo dele para cima do seu.
Na manhã seguinte, nada era como antes. Mas ela não se arrependia. Algo em seu olhar havia mudado. Havia medo, sim. Mas também coragem. E, acima de tudo, desejo — não por ele, nem só por aquilo, mas por si mesma. Por quem estava se tornando.




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