A Solidão que Incendiou Vanessa
Vanessa tinha apenas vinte e dois anos e já sabia o peso do vazio.
A casa ampla, antes cheia de risos e visitas, agora parecia um palácio abandonado. Seu marido, Raul, mergulhara de corpo inteiro na campanha política — noites intermináveis, reuniões urgentes, promessas sussurradas em corredores abafados. O leito do casal havia se tornado um campo de ausências, um espaço onde Vanessa repousava sozinha, ouvindo apenas o eco do próprio coração.No espelho do corredor, via-se sempre bonita. Os olhos azuis reluziam mesmo na penumbra, os lábios cheios guardavam o frescor da juventude, e o corpo, com curvas generosas e uma cintura marcada, era motivo de admiração onde quer que passasse. Mas nenhuma dessas certezas a preenchia. Era como se sua própria beleza fosse uma promessa não cumprida, uma melodia interrompida antes do refrão.
Nessas madrugadas solitárias, Vanessa sentia-se como uma atriz em cena sem plateia. Podia vestir-se, pintar os lábios de vermelho, acender velas no quarto — mas não havia quem assistisse, quem desejasse, quem a tocasse. O fogo que carregava dentro do peito permanecia sem destino, ardendo em silêncio.
Foi então que Bernardo surgiu em sua vida.
Ele trabalhava ao lado de Raul na campanha. Alto, imponente, a pele escura como noite de verão, e lábios cheios que contrastavam com um sorriso quase tímido. Havia nele uma presença diferente, um peso que alterava o ar dos ambientes em que entrava. Quando se aproximava, Vanessa percebia a respiração falhar, como se fosse pega em flagrante de um segredo que ainda não havia confessado nem para si mesma.
No início, rejeitou essa sensação. Reprimia-a como quem esconde um pensamento indecente. Havia aprendido a vida inteira que certos desejos não deviam sequer ser nomeados. Mas quanto mais tentava ignorar, mais seu corpo a traía — um arrepio súbito ao ouvir sua voz grave, um calor inesperado quando ele se inclinava para lhe mostrar um papel.
Naquela tarde de outono, Vanessa estava irritada, cansada da ausência do marido e das paredes que pareciam sufocar. Quando Bernardo bateu à porta, trazendo flores e um bolo simples, sua primeira reação foi tratá-lo com frieza. “Não quero visitas”, disse, sem sequer oferecer-lhe entrada. Mas ele não se abalou. Limitou-se a sorrir e entregar-lhe um envelope, alegando que precisava de sua assinatura em alguns papéis.
Vanessa retirou-se para a sala, abriu o envelope e encontrou-o vazio. Virou-se para reclamar e deparou-se com ele parado no limiar da porta. O coração dela acelerou em um compasso desordenado. Por um instante, o ar ficou mais denso, e o silêncio que se instalou entre os dois tinha a consistência de um segredo prestes a ser revelado.
As palavras não vieram. Vieram, sim, a raiva e o choro. Como se todo o vazio acumulado nos últimos meses tivesse encontrado ali sua válvula de escape. Vanessa golpeou-lhe o peito com mãos trêmulas, xingou, soluçou — até que, de repente, sucumbiu. Suas mãos escorregaram do gesto de afastar para o gesto de se prender. E sua boca encontrou a dele em um beijo arrebatado, urgente, cheio de contradição.
Foi como se o mundo tivesse parado.
A boca de Bernardo tinha sabor de algo proibido e inevitável. Ele a segurava com firmeza, mas sem violência, como quem protege ao mesmo tempo em que domina. Cada movimento parecia medir o limite do desejo dela, cada aproximação pedia permissão em silêncio.
A boca de Bernardo tinha sabor de algo proibido e inevitável. Ele a segurava com firmeza, mas sem violência, como quem protege ao mesmo tempo em que domina. Cada movimento parecia medir o limite do desejo dela, cada aproximação pedia permissão em silêncio.
Vanessa sentiu o corpo inteiro estremecer. As mãos dele eram quentes, largas, deslizavam por seus ombros como se marcassem territórios sagrados. Ela fechou os olhos e entregou-se ao momento — não apenas ao homem diante dela, mas ao direito de se sentir desejada, vista, tocada de verdade.
O tempo perdeu sua lógica.
Entre beijos e silêncios, caminharam juntos até o quarto. Vanessa tropeçava em suas próprias hesitações, mas dentro dela já não havia volta. O lençol frio encontrou sua pele ardente, e cada detalhe parecia ganhar uma intensidade nova: o farfalhar da cortina com o vento, o cheiro da madeira encerada, o calor da respiração no seu pescoço.
Entre beijos e silêncios, caminharam juntos até o quarto. Vanessa tropeçava em suas próprias hesitações, mas dentro dela já não havia volta. O lençol frio encontrou sua pele ardente, e cada detalhe parecia ganhar uma intensidade nova: o farfalhar da cortina com o vento, o cheiro da madeira encerada, o calor da respiração no seu pescoço.
Bernardo não tinha pressa. Tocava como quem decifra, olhava como quem adora.
Vanessa, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se viva. Não era apenas o corpo que despertava — era a alma, o ego, a feminilidade escondida. O prazer vinha em ondas demoradas, profundas, como se cada fibra de sua pele tivesse encontrado finalmente um idioma para se expressar.
Vanessa, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se viva. Não era apenas o corpo que despertava — era a alma, o ego, a feminilidade escondida. O prazer vinha em ondas demoradas, profundas, como se cada fibra de sua pele tivesse encontrado finalmente um idioma para se expressar.
Quando a entrega veio, não foi apenas física. Foi uma explosão íntima, emocional, uma revelação. Vanessa deixou-se levar como quem mergulha sem medo, e por um instante esqueceu de tudo: o marido, a casa, os limites. Existia apenas ela e aquele homem, o calor dos corpos, a respiração entrecortada, o brilho nos olhos.
Depois, o silêncio retornou.
Bernardo a cobriu com o lençol, e Vanessa percebeu um cuidado inesperado. Ele a olhou como quem sabe que a vida acabara de mudar de rumo. Ela sorriu, exausta, mas tomada de uma certeza: não era mais a mesma mulher.
Bernardo a cobriu com o lençol, e Vanessa percebeu um cuidado inesperado. Ele a olhou como quem sabe que a vida acabara de mudar de rumo. Ela sorriu, exausta, mas tomada de uma certeza: não era mais a mesma mulher.
Quando Raul voltou naquela noite, cansado e suado, Vanessa o recebeu com carinho. Deixou que ele a beijasse, deixou que ele a possuísse rapidamente, mas dentro dela algo tinha se transformado. Ela agora conhecia outro tipo de desejo — mais profundo, mais arrebatador. E sabia que não seria capaz de esquecê-lo.
Na madrugada, enquanto o marido dormia, Vanessa fitou o teto escuro do quarto e lembrou-se dos olhos de Bernardo, da firmeza de seu toque, do calor que ainda ardia em sua pele.
Ela compreendeu, então, que havia atravessado uma fronteira. O que antes era apenas carência e vazio agora se tornara segredo, chama, tentação.
Ela compreendeu, então, que havia atravessado uma fronteira. O que antes era apenas carência e vazio agora se tornara segredo, chama, tentação.
E, no silêncio da noite, Vanessa sorriu.
Porque, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se inteira.
Porque, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se inteira.




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