Rainha Sem Coroa, Súdito Sem Correntes
Ela não esperava que o menino das bochechas apertadas se transformasse em homem — e muito menos que esse homem a encontraria, dançando, em meio ao forró e ao uísque, com os olhos já despidos de inocência.
Carla sempre fora a amiga mais vibrante da turma — a que ria alto demais, vestia cores demais, e nunca deixava um elogio sem um toque. Nos encontros da faculdade, era ela quem abraçava os filhos alheios com força, quem beliscava as faces rosadas e dizia “meu Deus, como cresceu!”. Mas naquela noite de reencontro, vinte anos depois, foi diferente. O menino já não era menino. E o toque, agora, não era maternal.
Ele a convidou para dançar com um sorriso tímido e os ombros largos. Ela sentiu o calor da nuca dele sob a palma da mão — um calor que não era só do whisky, nem da música, nem do salão abafado. Era o calor do perigo disfarçado de nostalgia. Ele cheirava a sabonete caro e adolescência tardia. Ela, a perfume francês e desejos adiados.
Enquanto seus corpos se moviam ao ritmo do forró, ela sussurrou elogios que já não eram para a criança que fora, mas para o homem que era. E ele — oh, ele — não recuou. Deixou que os dedos dela escorregassem pela sua coluna, que o olhar dela pesasse sobre sua boca, que o silêncio entre os passos da dança se enchesse de promessas não ditas.
Na segunda-feira, o convite chegou como um raio em céu azul: “Preciso de ajuda com o computador.”
Ela sabia que não era o computador.
Ele sabia que não era ajuda.
O Honda Civic parou em frente ao cursinho com a precisão de quem já planejara cada curva. Dentro do carro, o ar estava denso — cheirava a couro, a perfume e a algo mais profundo, mais antigo: a curiosidade que se transforma em coragem. Ela sorriu, e o sorriso não era mais de tia. Era de predadora. De mulher que sabe o que quer, e que escolheu esperar o momento certo.
O motel não foi surpresa. Foi confirmação.
Na escada em espiral, entre o estacionamento e o quarto, ela parou. Virou-se para ele com os olhos brilhando — não de embriaguez, mas de desejo contido por décadas. Ajoelhou-se sem pudor, como quem venera uma relíquia de carne e desejo. E então, com mãos firmes e boca faminta, libertou o que ele escondia nas calças. Não havia pressa. Havia devoção. Lambidas lentas, mordidas leves, gemidos abafados contra a pele quente. Ele tremia. Ela sorria.
Dentro do quarto, o tempo se dobrou. O almoço veio, mas foi esquecido. Os talheres, arrumados com perfeição, serviram apenas de cenário para o que aconteceria depois: corpos nus se encontrando como se nunca tivessem se tocado, e ao mesmo tempo, como se já se conhecessem em todos os cantos da alma.
Ela era magra, sim — mas não frágil. A pele, branca e salpicada de pintas, parecia seda sob a luz quente do abajur. Os seios, macios e generosos, carregavam histórias que ele ainda não sabia ler — mas que aprendeu a beijar, a sugar, a venerar. E entre as pernas dela, tudo era úmido, quente, vivo. Um convite silencioso.
Ele a chupou como se estivesse aprendendo a língua do desejo — devagar, depois com fome, depois com raiva, depois com ternura. Ela arqueava as costas, prendia a respiração, enterrava os dedos nos cabelos dele e pedia mais — sempre mais. Quando gozou, foi com um grito abafado pelo travesseiro, o corpo inteiro se contorcendo como se tentasse fugir do próprio prazer. Mas não fugiu. Entregou-se.
Depois, foi a vez dele. De quatro, ela ofereceu o corpo como trono. Ele entrou com força, mas sem pressa — queria sentir cada centímetro, cada contração, cada gemido rouco que escapava da garganta dela. Os espelhos refletiam tudo: a juventude dele, a soberania dela, a loucura de ambos. Ela gritava palavras que jamais diria em público — “fode”, “enfia”, “não para” — e ele obedecia, como um súdito diante de sua rainha.
Quando virou, sentou-se sobre ele, cavalgando com uma maestria que só os anos ensinam. As unhas dela arranhavam seu peito, os dentes cerrados, os olhos fechados — mas o sorriso, sempre o sorriso. Gozou de novo, e dessa vez, desabou sobre ele como se finalmente tivesse encontrado o lugar onde podia cair sem medo — seu trono de prazer.
Mas não terminou ali.
Virou-se de novo, ofereceu o que poucos ousavam pedir — e ele, com reverência e desejo, aceitou. O cu apertado, quente, pulsante, engoliu-o como se fosse feito para aquilo. Ele bombeou até não aguentar mais, até explodir dentro dela com um gemido que pareceu vir da alma. E quando saiu, lentamente, ela gemeu de novo — não de dor, mas de posse. De vitória.
Dormiram abraçados, como amantes, como cúmplices, como dois que sabiam que aquilo não se repetiria — ou talvez se repetisse, mas nunca da mesma forma.
No banho, riram. Na despedida, trocaram olhares que dispensavam palavras. No carro, antes de ele sair, ela beliscou suas bochechas — como antigamente. Mas agora, o gesto não era de carinho. Era de posse. De lembrança. De promessa.
Ela sabia que ele cresceu.
Ele aprendeu que algumas mulheres não envelhecem — transformam.
E que, diante delas, até os mais fortes se ajoelham — não por obrigação, mas por encanto.




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