A noite em que fui detida pelo prazer


 
Há noites em que o desejo se veste de risco, quando o pulsar da adrenalina se entrelaça com o calor de um olhar que promete mais do que palavras jamais ousariam confessar. Foi numa dessas noites, sob um céu carregado de nuvens inquietas, que me vi à mercê de uma dança perigosa, onde a linha entre o certo e o proibido se dissolveu como gotas de chuva no asfalto quente. Meu corpo ainda carrega as marcas daquele encontro — um eco doce e ardente que me faz sorrir, mesmo enquanto a lembrança me atravessa com um frissom de ousadia.
 
O comércio onde trabalho ficava silencioso após a meia-noite, um refúgio solitário em meio às ruas desertas da cidade. Eu, uma jovem de curvas generosas e cabelos negros que caem como véus sobre os ombros, sempre soube usar o charme como uma chave mestra. Caronas eram meu pequeno troféu, conquistadas com um sorriso tímido e uma história bem ensaiada. Naquela noite, however, o destino trocou as peças do tabuleiro. Minha amiga, minha habitual salvadora de quatro rodas, não apareceu, e o aplicativo de transporte se tornara uma opção distante. Restava-me o plano de sempre: a viatura da ronda noturna, um ritual quase teatral que eu dominava com maestria.
 
Os dois policiais já me conheciam. O mais jovem, de riso fácil, sempre cedia ao meu jogo com uma piscadela e uma brincadeira sobre algemas que nunca se concretizavam. O outro, porém, era um mistério — um homem de feições duras, olhos castanhos que pareciam me atravessar com desdém, como se soubesse de todos os meus segredos sem que eu dissesse uma palavra. Naquela noite, o destino quis que fosse apenas ele ao volante, a viatura cortando a escuridão como um predador em busca de sua presa.

Preparei meu palco: a porta do comércio trancada, o olhar de súplica ensaiado, a voz trêmula ao mencionar motos suspeitas que nunca existiram. Ele me encarou com um silêncio cortante, a mandíbula tensa, antes de ordenar com um tom grave: “Entra logo.” O ar dentro do carro era pesado, carregado de uma tensão que eu não sabia nomear. Tentei quebrar o gelo, mas suas respostas curtas me fizeram recuar, afundando no banco enquanto o ronco do motor preenchia o vazio.

Então, o inesperado. Perto de casa, num beco escuro onde sombras dançavam entre risos abafados de jovens fugidios, ele virou o volante com brusquidão. O carro parou abruptamente, o muro à frente como um ponto final. “Sai do carro,” disse, a voz uma lâmina fria. Meu coração disparou, preso entre o medo e a incredulidade. Antes que eu pudesse protestar, ele se inclinou, desfazendo meu cinto com um movimento preciso, seus olhos me desafiando a reagir. “Você sabe que mentir pra polícia é crime, não sabe?” As palavras caíram como pedras, mas havia algo mais nelas — um brilho faminto que me fez prender o fôlego.

Ele me deu duas escolhas: a delegacia ou o beco. O som da chave girando na ignição ecoou como um ultimato. Tremendo, abri a porta e desci, o vento frio mordendo minha pele enquanto os primeiros pingos de chuva anunciavam a tempestade. Ouvi seus passos atrás de mim, firmes, decididos. E então, num giro inesperado, suas mãos encontraram meus ombros, virando-me para ele. Seus lábios colidiram contra os meus com uma urgência que me roubou o ar, um beijo que era ao mesmo tempo castigo e convite.

O que veio depois foi um torvelinho de sensações. Seus dedos traçaram meu corpo com uma mistura de rudeza e reverência, como se ele quisesse ao mesmo tempo me possuir e me desvendar. O capô do carro, frio contra meu peito, tornou-se o palco daquela entrega. Minha saia subiu em um gesto rápido, o ar gelado contrastando com o calor que se formava entre nós. Seus toques eram firmes, quase autoritários, mas havia neles uma precisão que acendia faíscas em minha pele. O som da chuva se misturava aos nossos suspiros, uma sinfonia selvagem que ecoava na noite.

Ele explorou cada curva minha com uma intensidade que me fez arquear contra o metal, o desejo crescendo como uma onda impossível de conter. Seus movimentos eram um ritmo primal, uma dança de poder e rendição que me levou ao limite. Quando o prazer explodiu, foi como se o céu desabasse sobre mim, a chuva caindo em cortinas enquanto eu me perdia em tremores e suspiros. Ele me segurou firme, seu calor me ancorando até que o último eco daquele êxtase se dissipasse.

Quando a viatura parou diante da minha casa, eu mal conseguia me mover, o corpo ainda vibrando com os resquícios do que havia acontecido. Ele abriu minha porta, um guarda-chuva em mãos, e me guiou até a entrada com uma gentileza que contrastava com a ferocidade de minutos antes. “Da próxima vez, não precisa mentir,” disse, deslizando um cartão no meu bolso com um sorriso quase imperceptível. “Me chama.” A porta se fechou atrás de mim, e eu fiquei ali, encharcada e exausta, sentindo o peso doce de uma noite que mudara as regras do meu jogo.

Talvez o desejo seja assim: um risco que nos transforma, uma chama que queima e ilumina ao mesmo tempo. Naquela noite, entre o medo e a entrega, descobri que às vezes o proibido é o que nos faz sentir mais vivos.

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