O aluno e a professora
Há mulheres que carregam universos inteiros sob a superfície de suas
rotinas. Elas dançam entre o dever e o desejo, equilibrando-se em uma
corda bamba invisível, onde cada passo é calculado — até que algo, ou
alguém, as faz tropeçar. Viviane era uma dessas criaturas magnéticas,
uma chama que se escondia em brasas durante a semana, apenas para
incendiar-se quando o sol se punha no sábado. Naquele dia, em um
shopping de uma cidade distante, ela deixou a armadura de professora no
armário e vestiu sua verdadeira pele: um vestido que abraçava suas
curvas como um amante ciumento, os cabelos soltos como um rio de fogo, e
um sorriso que prometia segredos. Mas o destino gosta de brincar com
quem se arrisca, e um encontro inesperado estava prestes a reacender o
que ela tentava manter adormecido.
O ar do shopping
parecia carregado de eletricidade enquanto Viviane caminhava, os saltos
ecoando como um convite silencioso. Ela sabia dos olhares que a seguiam,
sentia-os como carícias furtivas, e isso a incendiava por dentro. Parou
diante de uma vitrine, os olhos perdidos em reflexos de vidro, quando
uma voz cortou o ar e fez seu coração disparar. “Professora Viviane, é
você mesmo?” O timbre era jovem, firme, e trazia um eco que ela conhecia
bem. Ao virar-se, deparou-se com Pedro — seu aluno prodígio, o garoto
de 18 anos cujas respostas em sala eram tão afiadas quanto o olhar que
agora a despia sem pudor. Ele era uma presença impossível de ignorar:
alto, esguio, com traços que pareciam esculpidos para provocar suspiros.
Naquele instante, porém, não havia traço do estudante aplicado; havia
apenas um homem que a encarava com uma intensidade quase palpável.
Ela
tentou se ancorar na compostura, erguendo o queixo com um sorriso
contido. “Oi, Pedro. Professores também têm vida fora da escola, sabia?”
Ele riu, um som grave que vibrou no ar, mas seus olhos não riram — eles
a devoravam, traçando cada linha de seu corpo como se quisessem
memorizá-la. “Com todo respeito, professora,” ele disse, a voz carregada
de uma ousadia juvenil, “se eu contar por aí como você é fora da sala,
ninguém vai acreditar.” O elogio, tão cru e descarado, acendeu uma
faísca dupla em Viviane: a indignação de quem deve manter as rédeas, e o
prazer secreto de ser vista além do quadro-negro. Com um olhar que
misturava repreensão e algo mais perigoso, ela se despediu, mas enquanto
se afastava, sentia o peso daquele olhar cravado em suas costas — um
fogo que não se apagaria fácil.
Dias depois, a sala de
aula tornou-se um palco de tensões silenciosas. Pedro, sentado na
primeira fileira, parecia um predador à espreita, os olhos fixos nela
enquanto Viviane explicava equações com uma calma forçada. Sobre sua
mesa, um bombom e um bilhete a esperavam, as palavras rabiscadas em
tinta preta como um desafio: *“Eu não consigo tirar você da minha
cabeça.”* O calor subiu por seu pescoço, mas ela o engoliu, mantendo a
máscara intacta. A aula terminou, os alunos se dispersaram, mas ele
ficou. O silêncio entre eles era denso, quase sufocante, até que ela
quebrou o gelo com a voz firme: “Está com alguma dúvida, Pedro?” Ele se
levantou, aproximando-se com uma lentidão deliberada, e respondeu: “Sim.
Qual é o sabor do seu beijo?”
Antes que a razão pudesse
detê-la, ele a puxou para si. O beijo foi uma tempestade: quente,
urgente, roubando-lhe o ar e a prudência. Viviane resistiu por um
instante, mas seu corpo a traiu, cedendo ao desejo que ela havia
trancado por tanto tempo. Quando se separaram, ofegantes, ela tentou
recuperar o controle. “Você perdeu o juízo? Isso pode acabar comigo.”
Ele apenas sorriu, confiante, os olhos brilhando com uma vitória que
ainda não havia conquistado por inteiro. Mas algo em Viviane já havia
decidido. Com um suspiro, ela trancou a porta da sala e o encarou, um
brilho travesso nos olhos. “Você foi um aluno muito indisciplinado,
Pedro. Vou precisar te ensinar uma lição.”
O que se seguiu
foi uma dança proibida, um jogo de poder e rendição. Ela se ajoelhou
diante dele, desvendando-o com mãos lentas, apreciando cada reação que
arrancava dele — os suspiros abafados, o esforço para obedecer ao seu
comando de silêncio. Quando o guiou para dentro de si, o mundo lá fora
desapareceu; havia apenas o ritmo de seus corpos, a respiração
entrecortada, o calor que os consumia. Ele sussurrou provocações em seu
ouvido, palavras que a fizeram estremecer, mas ela as recebeu como um
troféu, movendo-se com uma precisão que o levou ao limite. Quando o
ápice chegou, foi uma explosão silenciosa, um segredo selado entre as
paredes da sala.
Depois, ela se recompôs com a elegância
de quem sabe guardar mistérios. “Seu castigo terminou. Agora vá.” Ele
saiu, mas não sem lançar um último olhar — um promessa de que aquilo era
apenas o começo.
Às vezes, o desejo é um fio que nos
prende antes mesmo de percebemos. Para Viviane, aquele encontro foi mais
do que um deslize; foi um espelho que revelou a mulher que ela escondia
sob o coque e as saias longas. Não havia arrependimento em seus olhos
enquanto limpava a lousa mais tarde, apenas a certeza de que algumas
aulas não se ensinam com fórmulas — elas se vivem, em segredo, entre
suspiros e silêncios. E, quem sabe, em uma próxima lição, ela
descobriria até onde aquele fogo poderia levá-la.




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