O padrasto e a enteada

 
Elena sempre soubera que a vida era feita de marés imprevisíveis, como as águas turquesa do Caribe que a haviam envolvido nas últimas semanas. Aos dezoito anos recém-completados, ela retornava a Madrid não apenas com a pele bronzeada pelo sol inclemente, mas com uma sensação de renascimento que pulsava em suas veias. A viagem fora um presente de sua mãe e de Javier, seu padrasto, para celebrar o fim do ensino médio e a entrada na universidade. "Você merece o mundo, mi niña", dissera a mãe ao apertá-la no aeroporto de partida, os olhos úmidos de orgulho misturado a uma ponta de inveja por não poder acompanhá-la. Javier, ao lado, sorrira com aquela tranquilidade que sempre a acalmava, como um farol em noites de tormenta.
 
Mas agora, enquanto o avião descia sobre a capital espanhola, Elena sentia um formigamento sutil no peito, uma ansiedade que não se devia apenas ao cansaço do voo atrasado. Pensava em Javier, que a esperava no terminal. Ele entrara em sua vida quando ela tinha doze anos, após o divórcio de sua mãe de um pai ausente e volúvel. Javier era o oposto: estável, atencioso, com mãos fortes de quem trabalhava com a terra em sua pequena vinícola nos arredores de Madrid. Seus olhos castanhos, profundos como poços antigos, sempre a faziam se sentir vista, não como uma criança, mas como alguém com segredos próprios. Nos últimos anos, porém, algo mudara. Elena começara a notar o contorno de seus ombros largos sob as camisas de linho, o jeito como ele ria baixo durante o jantar, ou o aroma de terra úmida e vinho que emanava dele após um dia de trabalho.
 
Ela se lembrava das noites em que, insone em seu quarto, ouvia os sons vindos do quarto dos pais. Sussurros, risos abafados, e então gemidos que ecoavam como uma melodia proibida. No início, era curiosidade infantil; depois, aos quinze, dezesseis anos, transformara-se em algo mais visceral. Elena fechava os olhos e imaginava Javier, sua silhueta contra a luz da lua filtrada pelas persianas, movendo-se com uma graça que contrastava com sua robustez diurna. "É normal", dizia a si mesma, enrubescendo no escuro. Mas o desejo crescia como uma videira selvagem, enraizando-se em sonhos onde ele a tocava não como padrasto, mas como amante. Ela acordava suada, o corpo latejando com uma fome que não sabia nomear.
 
O avião tocou o solo com um solavanco, arrancando-a de suas divagações. Elena ajustou a saia leve que escolhera para o voo – um tecido floral que dançava ao redor de suas coxas, realçando as curvas que o sol caribenho havia acentuado. Seus cabelos castanhos, agora com mechas douradas do mar, caíam em ondas desordenadas. Ela se sentia mulher, não mais a menina que partira. Ao passar pela alfândega, um homem mais velho a olhou com admiração disfarçada, e ela sorriu para si mesma, um segredo particular florescendo em seu peito.
 
Javier a esperava no saguão, as mãos nos bolsos da calça jeans desgastada, o rosto marcado por linhas de preocupação que se dissiparam ao vê-la. "Elena, mi sol", murmurou ele, abrindo os braços. Ela correu para ele, o corpo colidindo com o dele em um abraço que carregava o sal do oceano e o calor de dias preguiçosos na areia. Seus seios pressionaram contra o peito dele, e por um instante, ela sentiu o coração dele acelerado, ecoando o seu. Ao se afastar, notou o modo como os olhos dele percorreram seu corpo – não com a inocência paternal de outrora, mas com uma sombra de algo mais profundo, como se ele também percebesse a transformação.
 
"Você está... radiante", disse ele, a voz rouca, ajudando-a com a mala. Elena riu, um som leve que mascarava o tremor em seu estômago. "O Caribe faz milagres. E você? Como está a vinícola? Mamãe disse que as uvas estão promissoras este ano." Eles conversaram banalidades enquanto caminhavam até o carro, mas sob as palavras pairava uma tensão sutil, como o ar antes de uma tempestade. Elena se sentou no banco do passageiro, as pernas cruzadas, sentindo o olhar dele demorar-se um segundo a mais em suas coxas expostas.
 
A estrada se estendia à frente, sete horas até a casa na periferia rural de Madrid. O sol da primavera já se punha, tingindo o céu de laranja e púrpura. Elena sentia o cansaço pesar sobre ela, mas também uma excitação inexplicável. "Vamos parar para jantar em breve?", perguntou, virando-se para ele. Javier assentiu, os dedos tamborilando no volante. "Sim, há um restaurante à beira da estrada em uma hora. Conte-me sobre a viagem. As praias, os mergulhos..."
 
Ela falou, as palavras fluindo como ondas: o mar cristalino, as noites dançando ao som de ritmos latinos, os coquetéis doces que a faziam rir alto. Mas em sua mente, flashes de fantasias interrompiam o relato – imaginava Javier ao seu lado na areia, as mãos dele untando protetor em sua pele, os lábios roçando seu pescoço. "Foi libertador", concluiu ela, a voz baixa. "Como se eu pudesse ser quem quisesse, sem julgamentos." Os olhos dele encontraram os dela no espelho retrovisor, e por um momento, o silêncio falou mais que palavras.
 
O restaurante era um oásis modesto à beira da rodovia, com luzes amareladas e o aroma de paella e azeite flutuando no ar. Sentaram-se em uma mesa de canto, o lugar vazio o suficiente para que o mundo parecesse só deles. Elena pediu uma salada fresca e um copo de vinho tinto – "Estou maior de idade agora", brincou, piscando para ele. Javier sorriu, mas seus olhos traíam uma hesitação, como se ele lutasse contra pensamentos inconfessáveis.
 
Enquanto comiam, a conversa derivou para o passado. "Lembra quando você me ensinou a podar as videiras?", perguntou Elena, os dedos traçando o aro do copo. "Eu era tão desajeitada, mas você era paciente." Javier assentiu, o olhar distante. "Você sempre foi curiosa, Elena. Como uma flor que desabrocha devagar, mas com força." As palavras pairaram, carregadas de um duplo sentido que nenhum ousava admitir. Ela sentiu um calor subir pelo pescoço, imaginando aquelas mãos pacientes explorando não folhas, mas sua pele.
 
De volta ao carro, a noite caíra de vez, as estrelas salpicando o céu como diamantes. Elena reclinou o assento, o corpo exausto da viagem. "Não se importa se eu descansar um pouco?", murmurou, estendendo as pernas sobre as dele com uma naturalidade que mascarava a ousadia. Javier engoliu em seco, mas assentiu. "Claro, descanse." Ela fechou os olhos, mas o sono não veio de imediato. Sentia o peso de sua mão no volante, o calor de seu colo sob suas panturrilhas. A saia subiu ligeiramente, expondo a curva suave de suas coxas, e ela se perguntou se ele notava – se ele desejava, como ela desejava em segredo.
 
Em sua mente, um flashback a invadiu: uma noite de verão, dois anos antes. Ela voltara cedo de uma festa e ouvira os sons do quarto dos pais. Parada no corredor, o coração acelerado, imaginara Javier nu, o corpo musculoso brilhando de suor, movendo-se sobre sua mãe com uma paixão que a deixava invejosa. "Por que não eu?", pensara então, envergonhada. Agora, com as pernas sobre as dele, o desejo retornava, mais insistente. Ela fingiu dormir, a respiração ritmada, mas cada célula de seu corpo estava alerta.
 
Javier dirigia em silêncio, a mente um turbilhão. A proximidade dela era enlouquecedora – o perfume de coco e sal em sua pele, o calor irradiando de suas pernas. Sua mão, como atraída por um ímã invisível, repousou sobre sua panturrilha, um toque inocente que logo se tornou exploração. Os dedos traçaram a textura acetinada, subindo devagar, hesitantes. Elena sentiu um arrepio percorrê-la, mas permaneceu imóvel, o corpo respondendo com um pulsar sutil entre as coxas. "Ele sente isso?", pensou ela, o desejo misturando-se a uma ponta de culpa. Mas a culpa era doce, como um vinho proibido.
 
A estrada serpenteava por colinas escuras, e Javier parou em um mirante isolado, alegando cansaço. O motor silenciou, deixando apenas o canto dos grilos e o vento sussurrante. Sua mão avançou, ousada agora, deslizando sob a saia com uma delicadeza que a fazia tremer. Elena entreabriu os olhos, o coração martelando. "Javier...", murmurou, não como repreensão, mas como convite. Ele congelou, mas ela se moveu, guiando sua mão com uma lentidão que prolongava a agonia do desejo.
 
O toque era um fogo lento, consumindo as barreiras entre eles. Elena se virou no assento, os lábios encontrando os dele em um beijo que começava tímido e se tornava voraz. Suas mãos exploravam o peito dele, sentindo os músculos tensos sob a camisa, enquanto as dele traçavam as curvas de seu corpo com reverência. "Eu sonhei com isso", confessou ela entre suspiros, os dedos entrelaçando-se em seus cabelos. Javier a puxou para si, o carro tornando-se um casulo de intimidade. O ritmo era lento, deliberado – pausas para olhares que diziam tudo, hesitações que aumentavam a tensão.
 
Ela se lembrava de uma fantasia recorrente: Javier a carregando para a vinícola ao entardecer, deitando-a entre as videiras, o solo macio sob eles enquanto o sol se punha. Agora, a realidade superava o sonho. Seus corpos se alinharam, a conexão profunda e ritmada, como uma sinfonia que crescia em camadas. Elena sentia cada sensação amplificada – o calor dele dentro dela, o aroma de suor e desejo misturando-se ao couro do carro, os gemidos abafados ecoando como promessas. O êxtase veio em ondas, deixando-os ofegantes, entrelaçados.
 
Ao amanhecer, enquanto dirigiam os últimos quilômetros, Elena o observava, os cabelos despenteados, os olhos carregados de uma cumplicidade nova. "Eu ouvia você e mamãe... e imaginava ser eu", admitiu ela, a voz trêmula. Javier a beijou a mão. "Eu também via você crescendo, e algo mudava em mim. Mas isso... é nosso."
 
Anos se passaram, mas o laço permaneceu, um refúgio clandestino. Elena casou-se com um homem bom, mas previsível, e construiu uma vida em Madrid – uma carreira em literatura, amigos, rotinas. Três vezes por mês, porém, ela e Javier se encontravam na vinícola, sob pretextos inocentes. Lá, entre as barricas de vinho envelhecido, reviviam a dança das sombras: toques lentos, conversas sussurradas sobre desejos inconfessáveis, êxtases que transcendiam o físico.
 
Não era apenas luxúria; era uma conexão que curava feridas antigas – a ausência paterna para ela, a monotonia do casamento para ele. Elena refletia sobre isso em noites solitárias: o proibido a tornara mais viva, mais inteira. "O destino nos tece com fios inesperados", pensou ela, sorrindo para o espelho. E assim, entre silêncios e suspiros, eles celebravam um amor torto, mas visceral, um prazer que o tempo não apagava.

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